«Caros bibliotecários, guardiões do templo, é excelente que todos os títulos do mundo tenham encontrado refúgio na perfeita organização das vossas memórias (...), é prodigioso que estejam a par de todos os temas ordenados nas estantes que vos cercam... mas como seria bom, também, ouvir-vos contar os vossos romances preferidos aos visitantes perdidos na floresta das leituras possíveis... Como seria bom que lhes dessem a conhecer as vossas melhores memórias de leitura! Sejam contadores - mágicos - e os livros saltarão directamente das estantes para as mãos do leitor.
E é tão fácil contar um romance. Às vezes bastam três palavras.» (Pennac, 1995:125-126)
«Porque mais instrutivos ainda do que os modos de tratar os livros, são os modos de ler.
Em matéria de leitura, nós, os «leitores», temos todos os direitos, a começar pelos que recusamos aos jovens que pretendemos iniciar na leitura.
1) O direito de não ler.
2) O direito de saltar páginas.
3) O direito de não acabar um livro.
4) O direito de reler.
5) O direito de ler não importa o quê.
6) O direito de amar os «heróis» dos romances.
7) O direito de ler não importa onde.
8) O direito de saltar de livro em livro.
9) O direito de ler em voz alta.
10) O direito de não falar do que se leu.» (p.139)
«O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque sabe que é mortal. Vive em sociedade porque é gregário, mas lê porque se sente só. A leitura constitui para ele uma companhia que não ocupa o lugar de nenhuma outra, mas que nenhuma outra poderia substituir. Não lhe oferece nenhuma explicação definitiva acerca do seu destino, mas tece uma apertada rede de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e secretas conivências que falam da paradoxal alegria de viver, mesmo quando referem o trágico absurdo da vida. Por isso, as razões que temos para ler são tão estranhas como as que temos para viver. E ninguém nos pede contas dessa intimidade.
Os raros adultos que me deram livros a ler, fizeram-no sempre de modo muito discreto, e nunca me perguntaram se eu tinha compreendido. A esses, evidentemente, eu falava das minhas leituras. Vivos ou mortos, ofereço-lhes estas páginas.» (p.166)